sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ainda vejo eles,



Há quanto tempo eu estava ali sentada? Não sei dizer. Não sei dizer ao menos que horas são agora.
Há tempo joguei meu relógio fora, joguei fora minhas antigas roupas, e tudo que me prendia ao passado.
Os discos, os livros, e tudo mais que fazia parte de mim.
Doeu, doeu muito abrir mão de tudo o que eu era, de tudo o que eu amava, de tudo o que era meu chão.
E agora? Estou aqui, sentada na sarjeta, com as gotas da chuva molhando o meu rosto, e libertando o último resquício do meu passado que ainda sobrevive em mim.
Eu vi pernas indo e vindo a noite inteira, algumas paravam, observavam e iam embora. Aqui ninguém pára por muito tempo, aqui ninguém tem tempo.
O tempo possui as pessoas, e não o contrário. A vida possui as pessoas. A cidade possui as pessoas.
As pessoas não são donas de si, elas se venderam para o tempo, para a vida, para a cidade, para alguém.
Almas vendidas, que vão e vem a cada minuto.
Agora não mais, agora a cidade parou. A cidade dormiu.
Sempre tem alguma alma que ainda perambula por aqui, mas essas são as que não se venderam, as que se mantiveram firme, e agora estão à procura de alguma sarjeta para serem acolhidas, e assim como eu, passarem a noite vendo pernas indo e vindo, carregando almas que não param, não te enxergam, apenas observam alguma vezes.
Agora eu me deito, porque o cansaço me venceu. Estou esperando que algo venha e me tire daqui.
E não leia errado, eu quero algo, e não alguém.
Cansei.
O mundo me cansou, o passado me cansou, essas almas me cansaram.
Por favor, algo, me tire daqui, me leve para o céu, ou para o inferno, mas me tire daqui.

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