domingo, 20 de outubro de 2013

lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, inquieta na minha comodidade.. amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz.. quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais.
Porque nada disso algum dia valeu o risco, mas você é uma exceção.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e... (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, - natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa, tivesse alucinações semelhantes.). Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ascentralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: "Onde vais, linda menina?" Respondeu Chapeuzinho Vermelho: "Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde". Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: "Psychopathology Of Everiday Life", The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a idéia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó. Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranóica pequenas doenças que dão no cérebro, parte-súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em "Sexual Behavior in the Human Female". W. B. Saunders Company, Publishers.) Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranqüila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Eis-me aqui. Pela última vez, estou me despindo de todo o mundo que me cerca. As preocupações, os problemas, os prantos. Inclusive os teus. Despeço me das várias vezes em que fui despedaçada e, infelizmente, por mim. Fecho os olhos, cautelosamente, e visualizo em mim cada terno momento, para, enfim, esquecer. E assim, declaro o fim. Tendo um fim, deixa de ser um ciclo. Não sendo um ciclo, inexiste o recomeço. Sendo assim, ao despedir-me de tudo o que faz referência a o que fomos um dia, despeço-me do amor mais intenso e da ficção mais sonhada de toda a minha vida. Se achas que a juventude não me permite falar com propriedade, provas que realmente não decifrou-me. Sinto em mim, pela última e terna vez, o sorriso sincero - sim, eu o vi -, o olhar mais calmo, o tom de voz mais apaixonado. A inspiração talvez me vá, mas sei que volta. Espero, um dia, poder sorrir ao lembrar. Mas agora não. Por enquanto, quero poder bradar o esquecimento e a liberdade - tão sonhada! E, além de mim, eis aqui o último parágrafo sobre o que representou para mim. Se esquecemos o primeiro amor? É para isso que rezo. Dizem que o poeta só é bom quando sofre. Se a afirmação for real, despeço-me, acima de tudo, da qualidade poética. O coração alegre deixa de pulsar a cada sístole e diástole, fazendo agora apenas sua função vital. As têmporas já não vibram mais amor. E a última frase, a sinceridade escorrendo na ponta dos dedos indo-se com o último suspiro. Eu tentei.
Eu não joguei minhas fichas fora e nem parei de criar precezinhas na minha cabeça meio perturbada. Eu fiquei tentando lembrar se quando eu era bebê tinha algum indício de depressão. Dizem que quando a criança não dorme muito bem, se prejudica pelo resto da vida. Eu devo ter passado muitas noites em claro. Provavelmente isso prejudicou todo mundo. outra regressão talvez me fizesse mal e eu quase preciso disso pra voltar a escrever. o mal como um soco seco no estômago, quase puxando o vômito garganta acima. a verdade é que as coisas continuam as mesmas dentro de mim. eu ainda me olho no espelho com aquela ânsia, porque eu não passo duma mina putinha pra diabo. a diferença agora é que não preciso de mais amor do que já tenho, nem de bebida. só de me encarar fumando um cigarro. eu preciso do mal, que tá lá dentro da minha alma, indo pra fora e voltando diretamente pras minhas entranhas, de um jeito que me faça ficar doente. de um jeito que me leve diretamente pro inferno. porque dessa vez eu não vou pedir as contas. eu vou ficar lá. queimando.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Passarinho
O que fazes aqui?
Pousaste em minha janela
Alegraste-me com tuas cores
Envolveste-me com tua presença

Ah, passarinho
Se tu soubesse de tua beleza
Entenderia o porquê do meu olhar
Quando surges do horizonte

Ah, passarinho
É tão bom te ouvir cantar!
Teu canto encantou-me de tal forma
Que tomaste conta de meus pensamentos

Ah, passarinho
De onde vem esse teu jeito?
Tão cheio de defeito
E ao mesmo tempo tão perfeito...

Ah, passarinho
Por que estás indo embora?
Logo assim,
Logo agora

Ah, passarinho
Por favor, não se vá!
É tão bom te ver
E as manhãs não serão as mesmas sem o teu cantar

Ah, passarinho
Não me faça chorar!
Hei-me rendido ao pranto
Na certeza de um vazio que virá

Ah, passarinho
Mas quem sou eu pra te prender?
Tens muito céu pra voar
Tens muitos mundos a desvendar

Mas ah, passarinho
Eu só lhe peço, por favor
Não te esquece de mim
Quando em outra janela pousar.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Garotinhas de vida fácil. Eu sou uma delas. Pague a conta do bar com o dinheiro que pegou com teus pais, cante um blues triste mentalmente e engula comprimidos pra tua dor de cabeça permanente, como um curto circuito no cérebro. Vinho com cigarro. E você espera um milagre enquanto lê poesias sobre almas fodidas como a tua. Espera por uma compreensão, espera por um corte que sangre bastante, espera que a morte seja como um golpe de prazer. Espere até não aguentar mais e enquanto isso, torre a grana que você tem pra abusar de todos os prazeres baratos que você precisa pra aguentar a barra. Tu ouve as velhas músicas em busca de alguma coisa, mas isso não é nada. Siga em frente com os pés mal tocando o chão e arranje um precipício razoavelmente alto pra queda valer à pena. Às vezes é mais difícil engolir a tristeza quando você é uma de nós. Cínicas, mimadas, bem educadas e com sorrisos no rosto, sempre que é apresentada a algum amigo babaca do teu pai, enquanto pensa em como vai cuidar da ultima encrenca em que tu se meteu com um cara parecido com esse..
E no fim, serão apenas palavras. Apenas gestos vagos e histórias vazias. No fim não existirá esse elo e essa solidariedade que tanto se almeja nos dias mórbidos que se invadem pela chama da emoção adolescente e inconsequente que causa vontade voar, e os casos serão até esquecidos. No fim, meu amor, serão apenas babacas disfarçados de bons amigos.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Eu sou a pior espécie da minha geração. Puta, carente, cheia de tesão e mimada como o diabo. Reclamo com os olhos lacrimejando e a barriga cheia, enquanto os celibatos, os católicos e os vegans me olham com reprovação, bravejando minha infâmia, minha falta de educação. Foi porque não nasci pra ser educada. Nasci pra rasgar os livros e dar dedo pra deus e pra bíblia e pros fiéis. Nasci para cuspir em cima do que me ditaram. Não nasci pra soletrar e nem mesmo para acreditar nas verdades inventadas por cristãos infelizes. Não nasci pra sociedade moldar meu sentido vital, se alimentar do meu sangue e me dizer que eu não deveria abrir as pernas pra qualquer um. Garotas nascem com suas mães ditando que não podem ser assim, que têm que cruzar as pernas e não mostrar os dentes. Eu abri um rasgo no meu rosto para que pudessem enxergar minha arcada e se assustassem. Eu sou o pior tipinho de vagabunda que uma sociedade pós-moderna e ao mesmo tempo arcaica pode criar. Eu sou um bebê podre, um fruto sem futuro, sem grandes planos, sem grandes empregos. Eu sou aquele fracasso que sempre é dosado com esperança. Eu sou aquilo que foge aos olhos, como uma experiência que deu errada. Eu faço parte de 80% da população brasileira, mas infelizmente, ninguém dá bola.

24 de Agosto de 2012

Chame de crise de identidade, de pouca idade, de meia idade, ou de não-idade. Chame do que quiser, mas não chame de drama. É apenas um número, e nunca possuiu tamanho valor, mas mesmo não sendo relevante, ele pesa. Eu tenho dezesseis anos, e não sei se devo pensar que "sou velha demais e preciso escolher um futuro" ou se "sou nova demais, ainda tenho tempo pra isso". Sendo sincera, não estou pronta. Quero subir os degraus da vida, e alcançar o topo, mas não agora. Não assim.. Eu sou a margem, eu quero que o tempo pare, e quero agora, antes que todos os anos sejam jogados no lixo, antes que envelheçamos e eu me separe das pessoas que me fazem bem. Que pare agora, que seja intenso, que tenha emoção, que me mostre a verdade, que me diga onde não ir para que eu vá justamente por esse lado.
Porque, Tempo? Porque tão rápido? Tão descontrolado? Porque tão tempo?
É meu aniversário, e eu ainda não sei como enfrentar.